terça-feira, 7 de junho de 2011

O céu é o limite!


Olá, queridos!
Já faz algum tempo que não postamos nada, eu sei, mas há alguns momentos na vida em que esse tempo é preciso.
E isso acontece por diversos motivos, ou porque precisamos digerir informações, refletirmos sobre conceitos, ou então por precisarmos avaliar determinados acontecimentos para decidirmos qual é o melhor caminho a trilhar.
Muitas vezes recebemos sinais que nos avisam quando o momento chega.
Sinais estes que podem surgir através de algum conselho, de uma intuição ou do seu próprio corpo pedindo socorro.
Eu respeito muito estes sinais, e já faz algum tempo que estou vivenciando um "intervalo".
(Juro, não era sobre isso que queria postar hoje, minha ideia era escrever sobre Memória Emotiva, estou lendo muitas coisas a respeito e me surgiram várias dúvidas que eu gostaria de dividir com vocês, mas acredito que essa justificativa é imprescindível para recomeçarmos, mesmo porque ela também é uma questão muito importante para estar em pauta hoje)
Meu corpo gritou, gritou e eu não quis ouvir e lutei contra seu pedido de socorro com todas as minhas forças. Mas ele foi mais forte do que eu. Fique "tonta". Sem chão. E caí.
Deitada no chão vi tudo girando sobre mim. De um ângulo que ainda não tinha visto.
Do lado de fora de todo aquele tornado, vi minhas angústias, meus anseios, minhas vontades, meus caprichos, meus sonhos, minhas dúvidas, minha criação, minha personagem, meus medos, meu LIMITE.
Sim, eu havia chegado ao meu limite.
É frustrante para qualquer ser humano perceber que não consegue ir além dos obstáculos da vida para chegar ao resultado que havia planejado, ou que ainda não é o momento para enfrentar determinadas provas.
E como funciona esse momento crucial na vida de um ator? Até onde devemos ir com a nossa "gula" por vivências? Devemos permitir que elas aconteçam naturalmente e assumir que não estamos prontos psicologicamente ou fisicamente para determinados personagens? Somos fracos por não nos aprofundarmos num universo que não temos o controle? Devemos perder o controle até achar o equilíbrio? Limitar-se é não dominar a técnica, ou não ter repertório suficiente de experiências vividas?

Estou lendo o livro "Técnica para o ator - A Arte da interpretação ética" de Uta Hagen com Haskel Frankel, tem um trecho que achei muito interessante, em que ela diz:
"Um jovem pianista talentoso, hábil na improvisação ou em tocar de ouvido, pode ser uma sensação passageira num night club ou na televisão, mas sabe que é melhor não tentar um concerto para piano de Beethoven. Os dedos do pianista simplesmente não conseguirão executá-lo. Um cantor pop com a voz destreinada pode ter sucesso semelhante, mas não com uma cantata de Bach, porque romperia as cordas vocais. Uma bailarina sem treino não tem esperança alguma de dançar em Giselle, pois romperia os tendões. Em sua tentativa, eles vão arruinar o concerto, a cantata e Giselle também para eles mesmos, pois se um dia finalmente estiverem preparados, só se lembrarão dos erros do passado. Mas um jovem ator, se tiver a oportunidade, vai mergulhar em Hamlet sem pensar duas vezes. Ele deve aprender que, enquanto não estiver pronto, está destruindo a si mesmo e ao papel."

Sei que esta não é uma verdade absoluta, pode até ser que existam atores geniais e prontos que não precisem de amadurecimento e técnica para atuar lindamente em "Hamlet" ou em qualquer outra grande obra, mas os dizeres de Uta me confortam perante a minha decisão. Não estou tranquila e relaxada quanto a isso. Pelo contrário. Mais do que nunca quero descobrir caminhos que me façam chegar ao domínio dessa técnica.
Talvez ter abdicado, com consciência, de algo tão importante para mim por saber que não estava pronta, já seja o início de um caminho rumo a autodescoberta.
Sem limites.
O céu é o limite!

8 comentários:

  1. Que sábias palavras!
    Realmente o corpo e a emoção dão sinais que na maioria das vezes passam despercebidos!
    Engraçado que hoje mesmo ouvi de um excelente médico que precisava entender mais as minhas emoções, que quando elas não são compreendidas e trabalhadas se manifestam em doenças. O corpo é inteligente e tem que expelir aqueles momentos e sentimentos de alguma forma.
    E aprender a visualizar esse sinais e trabalhar as emoções não é uma tarefa fácil, é um caminho difícil mas muito interessante para se descobrir.
    E para o ator então, descobrir e entender se torna um dever!
    Realmente para aprendizado não ha limites e as surpresas diárias são deliciosas!

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  2. "Uta Hagen" estreou no Teatro, exatamente, numa adaptação de "Hamlet"! (curioso!)
    Fato que pode parecer contraditório, uma vez que seu texto, procura advertir os "jovens" atores, de que, assim como na música, no canto ou na dança; a atuação, também, exige o domínio de uma determinada técnica, antes de nos lançarmos a patamares e projetos mais complexos.
    Na sua estréia em "Hamlet", talvez ela não tenha interpretado "Gertrudes" ou "Ofélia"... mas não há mais mulheres na peça!
    Seria ela uma dessas atrizes geniais? ou será que ela "arruinou" o espetáculo e a sí própria? (como prega na sua teoria)
    Uta é muito clara, quando fala de um "jovem" pianista, ou de um cantor com "voz destreinada", ou ainda, uma bailarina "sem treino". Quando menciona o "jovem" pianista, pressupõe um músico iniciante. Chega a ser óbvia quando cita o cantor e a bailarina "sem treino". É evidente que atirar-se a um projeto, seja ele qual for, sem qualquer preparo ou treinamento prévios, pode, -como diz Uta- destruir esse projeto e o próprio artista (ainda que momentaneamente). Se criarmos duas visões do mesmo artista em fases distintas de sua carreira; o iniciante e o veterano, podemos entender melhor sua mensagem. Ela se referiu ao percurso de todo artista, que é em sí, a grande aventura, o grande mergulho. Na verdade,"memória emotiva" tem muito a ver com tudo que foi escrito, pois Uta nos fala, basicamente, de experiência de vida, de acumulo de vivências. A técnica vai se aprimorando com o tempo (a exceção dos geniais) Técnica e vivencia caminham juntas e fazem tudo acontecer a seu tempo. Não acredito - como exemplo- que uma montagem de Hamlet encenada "apenas" por jovens atores, pudesse alcançar grande sucesso. Não se trata de qualquer tipo de preconceito. O fato é que um "ator" de 24 anos, não traria consigo o "peso" necessário para alguns personagens da peça, que só a vivência real nos dá, a despeito de seu talento ou de uma caracterização excepcionalmente bem feita. Este mesmo ator, contudo, poderia brilhar na pele de Puck (para continuarmos com Shakespeare). Tudo pode brilhar, no momento certo! (continua)

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  3. Nesse sentido o ator é um privilegiado, pois ao longo de sua vida/carreira, sempre terá um leque imenso de personagens riquíssimos que poderá viver!
    Vamos vivendo nossa vida e acumulando material de trabalho (memória emotiva) e nossa técnica, ao mesmo tempo que crescemos como indivíduo. Para nós atores, não há necessidade de saltos vertiginosos no escuro, para nos assegurarmos de que somos fortes e corajosos o suficiente, para enfrentar qualquer desafio em nome do crescimento artístico/pessoal (os dois se confundem) Penso que, ao interpretar um papel, o ator busca todo material necessário em sí próprio; usa todo o seu corpo e também sua "cabeça", seu "universo interior", suas lembranças, seus sentimentos, suas virtudes e seus defeitos. No meu caso, não tento imaginar "como" agiria "Demétrio", mas como "EU" agiria se estivesse vivendo aquela situação. Talvez essa seja a definição de "viver o papel" que, sem dúvida, é mais producente (e divertido) que "representar o papel". O que importa, de fato, para o ator, é unir seu talento a sua vocação e colocar suas experiências de vida a serviço de seu ofício. Entendendo "talento" como "a capacidade inata para determinada função" (no nosso caso, atuar) e "vocação" a disponibilidade e determinação para encarar os eventuais desafios...que virão no momento adequado. A parte, toda essa "teoria" e elocubração, sou daqueles que acreditam, que não é preciso "pular num precipício" só pela vivência do pular (até porque, seria minha última vivência!) Talvez até me colocasse a beira de um precipício para despertar algumas sensações...o resto, deixo a cargo da minha "imaginação"; essa "poderosa ferramenta do ator". (o que EU faria se vivesse isso?) Viver cada momento, cada etapa, cada fase, sempre calma e prazerosamente, acumulando "técnica" e "vivência" e, sobretudo, dando asas a "imaginação.
    Giulio Lopes

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  4. Olá, queridos. Não estava conseguindo responder pelo meu notebook por isso a demora.
    Acho imprescindível que haja resposta aos comentários do blog.
    Não sei se é assim que funcionam os blogs, mas o nosso surgiu justamente com o intuito de trocarmos sensações, ideias e conhecimento.

    Li, outro dia conversávamos sobre isso, não é mesmo?! Os sinais que o nosso corpo nos dá a todo momento.
    Temos que desenvolver o nosso lado observador e sempre permitir que este seja atuante.
    Envolver-se com as sensações e ao mesmo tempo distanciar-se para avaliar o quê está acontecendo dentro de nós mesmos.
    Mapear emoções.
    É como se estivéssemos "TRANSITANDO" pelo interior de nosso corpo e pelo ambiente e circunstância presente.
    Mas sabemos que em determinados momentos da vida isso é muito complicado, e a tendência é sempre mergulharmos de cabeça. E às vezes nos aprofundamos de tal forma nas emoções que nem lembramos mais quais são as suas origens, ficando assim muito mais difícil nos livrarmos delas ou então entendermos a sua evolução.
    Mas com consciência e prática chegaremos lá, pois como você mesma disse: é um caminho difícil mas muito interessante para se descobrir!
    Obrigada, querida.
    beijoks

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  5. Olá, Giulio.
    Você nos trouxe algumas informações bem interessantes.
    Como esta sobre Uta Hagen ter participado de uma montagem de Hamlet na sua juventude.
    Muito contraditório mesmo o que ela diz, a não ser que ela mesma tenha se arrependido de ter se engajado precocemente em um personagem que exige mais maturidade.
    Mas por outro lado, talvez se aventurar em um grande desafio, como o de interpertrar personagens complexos e mais maduros, também seja uma experiência muito válida para o ator. Mesmo que seja para ele reconhecer que ainda não está pronto.
    *****
    Acho memória emotiva um assunto complexo e que vai dar muito "pano pra manga" e isso é ótimo.
    Também acredito que não é preciso passarmos por determinadas situações para sabermos qual é a sensação ou emoção que elas nos causam.
    Podemos correlacionar as emoções do personagem com as nossas, nos colocando em situação e substituindo os fatos que contenham emoções e reações similares.
    Adorei o que escreveu sobre memória emotiva e imaginação, continuaremos abordando o tema no próximo post.
    Obrigada pela atenção, querido.
    bjs

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  6. Minha linda,
    A situação em que vivo hoje se encaixa perfeitamente com a primeira parte do seu texto e fiquei até emocionada ao lê-lo.
    Eu só preciso aprender a obedecer estes sinais, deixar de ser orgulhosa e enxergar o quanto a minha teimosia tem me feito mal...
    Mais uma vez parabéns, pelas sábias palavras e acredite: sou sua fã em todos os sentidos... Beijos.

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  7. Syssa, minha querida.
    A gente precisa aprender não só a obedecer estes sinais como saber de onde eles vêm. Não adianta darmos repouso ao corpo, se não sabemos quais são as origens desses apelos, sendo assim muito mais difícil sanar essas "dores".
    É necessário fazer uma viagem ao nosso íntimo para descobrir o que está nos tirando do eixo.
    Muitas vezes esse encontro com nossos medos, angústias e encucações são muito dolorosos, mas é o ponto de partida para a superação.
    Depois disso tudo começa a funcionar e o universo simplesmente flui.
    Obrigada pela visita.
    Fico muito feliz que tenha se identificado com o post. =)
    Também sou muito sua fã.
    beijoks

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  8. Amooooooo amoooooo td o que vc escreve.....Lovi iuuuuuu roca linda

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